O Tempo das Coisas
- Tainar Undália

- 2 de dez.
- 3 min de leitura
Desde os tempos antigos, o autor de Eclesiastes já intuía algo que hoje a ciência comprova: a vida é feita de ciclos. A sabedoria bíblica descreve com poesia aquilo que a Psicanálise e a Neurociência traduziriam séculos depois em linguagem de mente e cérebro — que nada em nós é fixo, e tudo está em constante transformação.

Na visão da Psicanálise, o tempo de que fala Eclesiastes não é o cronológico, mas o tempo do inconsciente — um tempo interno, subjetivo, que não se mede pelo relógio, e sim pelas experiências que conseguimos suportar, simbolizar e elaborar.
Há dentro de nós um tempo de nascer e um tempo de morrer — o tempo de deixar morrer velhos modos de ser, velhos ideais e permitir que o novo possa nascer.
Quando o texto diz “tempo de chorar e tempo de rir”, ele nos lembra que não há cura psíquica sem atravessar o luto, sem permitir que a dor tenha lugar antes que o riso possa florescer novamente.
“O inconsciente precisa de tempo — o mesmo tempo que Eclesiastes descreve — para fazer o luto, amadurecer o desejo e dar sentido ao vivido.”
Freud dizia que o sofrimento humano não deve ser silenciado, mas ouvido, interpretado e transformado. O tempo psíquico, portanto, é o tempo da elaboração — o intervalo entre o que sentimos e o que conseguimos compreender.
O tempo cerebral: o ritmo das sinapses
A Neurociência confirma essa sabedoria antiga de outro modo. O cérebro humano funciona em ritmos — ritmos circadianos, ondas cerebrais, fluxos hormonais e ciclos de plasticidade neural.
Há momentos em que estamos mais receptivos ao aprendizado e outros em que o cérebro precisa descansar e se consolidar.
Pesquisas mostram que a transformação emocional e comportamental exige repetição, paciência e tempo de integração — como a terra que precisa repousar depois da colheita.
Cada nova percepção emocional cria novas conexões sinápticas. Cada escolha consciente fortalece caminhos neurais. E é no intervalo entre uma experiência e outra que o cérebro se reorganiza, abrindo espaço para o novo.
“A mente precisa de silêncio, o cérebro precisa de pausa — e ambos precisam de tempo.”
Aceitar o tempo é aceitar a vida
Eclesiastes não fala de passividade, mas de sabedoria emocional — de compreender que a aceleração e o controle são ilusões. Na Psicanálise, chamamos isso de aceitação da falta: não podemos tudo, não temos tudo, e é justamente nesse limite que a subjetividade se constrói.
Na Neurociência, esse mesmo princípio aparece como autorregulação — a capacidade de pausar, respirar e permitir que o sistema nervoso volte ao equilíbrio.
O tempo certo de cada coisa é, portanto, o tempo do amadurecimento interno. A mente e o cérebro trabalham juntos para integrar o que vivemos. E quanto mais respeitamos nossos ritmos — de dor, de alegria, de mudança —, mais conscientes e plenos nos tornamos.
Entre a sabedoria antiga e a ciência moderna
O autor de Eclesiastes talvez não soubesse nomear sinapses, inconsciente ou plasticidade cerebral. Mas ele sabia, com a linguagem da alma, que o ser humano precisa aprender a confiar no tempo.
“Entre nascer e morrer, plantar e colher, chorar e dançar, está a experiência mais humana de todas: viver o presente como parte de um processo que nunca se encerra.”
A sabedoria antiga e a ciência moderna, cada uma à sua maneira, apontam para a mesma verdade: O tempo não é inimigo — é mestre. E aprender a caminhar com ele é o início de toda transformação.
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